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POLÍTICA ENCONTRA GUARIDA NAS REDES SOCIAIS

A disputa pelo protagonismo político em plataformas como Facebook e WhatsApp

O Brasil vive um momento em que a política já não cabe nas ruas ou nos corredores do Congresso. Ela brilha em telas de celulares, atravessa grupos de WhatsApp e ganha vida nos compartilhamentos do Instagram e do Facebook. O levantamento da Palver revelou uma virada surpreendente: os protestos da esquerda no dia 21 ultrapassaram em engajamento as manifestações de 7 de setembro convocadas pelo bolsonarismo. A cada 100 mil mensagens trocadas, 865 falavam do protesto progressista, enquanto 724 citavam os atos da direita duas semanas antes. A diferença mostra que algo mudou profundamente.

Não faz muito tempo, os grandes atos dependiam de jornais, televisão e rádio para alcançar massa. Hoje, basta uma mensagem disparada em um grupo de WhatsApp para acender uma corrente que atravessa o país em questão de horas. A esquerda soube aproveitar esse terreno e, em vez de centralizar a comunicação em lideranças ou partidos, abriu espaço para uma mobilização pulverizada, espontânea e carregada de emoção. O resultado é que cada militante conectado vira um multiplicador, cada curtida vira um ato de resistência, e cada compartilhamento, um grito coletivo.

O estudo da Palver revelou que figuras do governo não tiveram protagonismo nos debates digitais. Essa ausência reforça o quanto a política está mudando: a centralidade da narrativa já não pertence a lideranças, mas às bases que constroem a comunicação em rede. Não são os ministros ou deputados que puxam a fila das mensagens, mas cidadãos comuns que, com vídeos caseiros, memes ou mensagens curtas, conseguem mobilizar multidões. É um movimento de baixo para cima, em que o poder nasce da coletividade e não do topo da pirâmide.

Exemplos históricos de mobilizações digitais que mudaram destinos políticos

O Brasil já viveu algo semelhante em 2013, quando protestos começaram tímidos contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo e se transformaram em uma onda nacional após viralizações no Facebook. As redes sociais foram combustível para levar milhões às ruas. Em 2018, o WhatsApp foi decisivo para impulsionar a campanha de Jair Bolsonaro, que conseguiu chegar à presidência mesmo com pouquíssimo tempo de TV.

No mundo, temos o exemplo marcante da Primavera Árabe, quando jovens organizados pelo Facebook e Twitter derrubaram governos inteiros no Oriente Médio. Outro caso foi o movimento Black Lives Matter, que explodiu nos Estados Unidos a partir de vídeos e hashtags que denunciaram violência policial. Esses exemplos mostram que a política encontrou abrigo nas redes e depende delas para respirar.

A política brasileira encontrou, enfim, guarida definitiva nesse universo digital. Não é exagero dizer que o futuro das decisões eleitorais e das grandes mobilizações será decidido mais pelo poder de viralização do que pelo espaço ocupado em debates televisivos.

Quem souber compreender essa lógica terá vantagem. Quem insistir em ignorar o novo palco corre o risco de ficar falando sozinho, em discursos vazios, enquanto as multidões se movimentam silenciosamente em grupos de mensagens, organizando o próximo ato que pode mudar os rumos do país.

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