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“Conecta Camaçari”: ainda não chegou nas escolas   

Perpetuando desigualdades educacionais

A internet se consolidou como ferramenta indispensável para o aprendizado. Em Camaçari, município estratégico da Região Metropolitana de Salvador, onde convivem o Polo Industrial e uma rede municipal de ensino extensa, a conectividade escolar deixou de ser luxo e passou a ser condição básica de cidadania. Mas afinal, quantas escolas em Camaçari contam hoje com internet para fins pedagógicos? A resposta não é simples: faltam dados oficiais consolidados.

O governo federal, por meio do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) e do programa Escolas Conectadas, anunciou em 2025 a meta de levar internet a mais de 2.000 escolas brasileiras apenas nesta etapa. Na Bahia, já são 7.644 unidades atendidas até agosto. No entanto, os editais publicados — como a Seleção Pública BNDES-FUST nº 01/2024 — não trazem de forma destacada os números por município. Isso significa que Camaçari certamente tem escolas contempladas, mas não há, em domínio público, uma planilha consolidada apenas para a cidade.

Enquanto isso, a Prefeitura de Camaçari divulga em seus relatórios a lista de unidades escolares da rede. O documento oficial de 2022 já apontava mais de 100 escolas ativas, espalhadas por bairros da sede e localidades da orla, como Monte Gordo, Arembepe e Jauá. Parte dessas instituições aparece em cadastros oficiais como “equipadas com banda larga”, embora a qualidade da conexão é fraca e não especificada.

Além dos investimentos municipais, parcerias com empresas privadas também têm ampliado o acesso digital. A Braskem, por exemplo, apoiou projetos em escolas como o Centro Educacional Reitor Edgard Santos (Gleba A), a Escola Angiolina Teixeira de Souza (Piaçaveira), a Professora Marcelina Bispo da Silva (Monte Gordo) e a Experimental Marina Tavares Cardoso (Gleba E), promovendo atividades com tecnologia.

Notícias recentes confirmam que pelo menos algumas unidades já receberam equipamentos ou melhorias de infraestrutura, sinalizando acesso à internet:

  • Escola Virgínia Reis Tude – uma das primeiras a receber Chromebooks;
  • Centro Educacional Paulo Freire e Colégio São Tomaz – incluídos em programas municipais de digitalização;
  • Escola Monteiro Lobato (Camaçari de Dentro) – contemplada em ações de tecnologia;
  • Escola Ilay Garcia Ellery (Novo Horizonte) – cadastro oficial aponta acesso à banda larga;
  • Joana Angélica, Luiz Pereira Costa, Rosalina Costa de Paula, Cleusa Maria de Carvalho Moreira e EMEI Nova Vitória – listadas em diretórios com conectividade básica.

Essas evidências mostram que a presença de internet não é uniforme, mas está em expansão, especialmente nas unidades de maior porte e nas mais próximas ao centro urbano.

O maior desafio hoje é a ausência de um levantamento público consolidado. Nem a Secretaria Municipal de Educação (SEDUC), nem os editais federais apresentam de forma clara quantas escolas de Camaçari estão de fato conectadas, com detalhes sobre velocidade, estabilidade e cobertura do sinal dentro das salas de aula. Isso gera insegurança sobre o impacto real das políticas públicas e sobre a igualdade de oportunidades entre estudantes da sede e da orla.

Especialistas em educação digital defendem que a Prefeitura publique um mapa de conectividade escolar, incluindo dados como:

  • nome da escola, bairro e número de alunos;
  • status de internet (sem, com acesso básico, com Wi-Fi pedagógico);
  • indicadores de qualidade da conexão (velocidade, cobertura em salas, frequência de falhas).

Além disso, a integração com as plataformas Educação Conectada (MEC) e o Mapa de Conectividade do NIC.br deve oferecer um retrato em tempo real da situação do município.

Camaçari avança na inclusão digital escolar, mas ainda de forma fragmentada. Há exemplos positivos de escolas que já usam internet em atividades pedagógicas e recebem apoio de programas e parcerias. No entanto, a falta de transparência e de dados consolidados impede a população de saber com clareza onde a política pública está chegando e onde ainda falta investimento.

Enquanto isso, estudantes da periferia e da orla devem estar em desvantagem em relação àqueles da sede, perpetuando desigualdades educacionais. A internet na escola não pode ser exceção, tem de ser regra — e isso exige planejamento, investimento contínuo e transparência.

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