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Síndrome de Estocolmo 

Por Cláudia Maria Martins (Escritora)

Sabe o que é estar num deserto, sedento por um pouco de água e, de repente, avistar alguém vindo em sua direção com um copo cheio? Que maravilha! Se você ainda tivesse um pouco de saliva, essa imagem certamente te daria água na boca. É uma visão incrível. Aquela pessoa se aproximando com tudo o que você mais deseja. 

Você fica ansioso, inquieto, não vê a hora de sorver todo aquele líquido milagroso. Os minutos que te separam daquele copo d’água parecem uma eternidade. Finalmente, o copo está em suas mãos. Você bebe devagar, tentando prolongar ao máximo, quem sabe até eternizar, o prazer e a refrescância desse momento. 

Entretanto, nada é para sempre. A sede seca o copo, mas o copo não aplaca a sede. O portador desse sopro de vida está ainda ali. Você olha para ele. Agradece a água. Admira o gesto. Ele recebe o copo, se compromete a retornar com mais. Ele te convence que estará sempre ali. Não te deixará morrer à míngua. Então se afasta e desaparece no horizonte. 

Parece um sonho. Depois de um tempo você custa a acreditar que realmente alguém esteve ali. Mas o gosto ainda presente em sua boca prova que tudo aquilo existiu. Bom existir alguém que atravessa o deserto para te entregar um copo d’água. A quantidade garante mais um tempo de vida. Você vai sobreviver mais um pouco. O calor do deserto ainda vai escaldar os seus pés um pouco mais. 

As perguntas começam a fervilhar em sua mente. Por que só um copo? Por que não uma jarra? E a fonte, onde fica? De onde veio essa pessoa? Por que não me leva com ela? Você se culpa, deveria estar mais agradecido, afinal, alguém se lembrou de você. 

Uma ternura e gratidão, então, te invadem. Você começa a desejar e esperar por mais um copo d’água. Só mais um! Só por hoje! A cada nova aparição, mais envolvimento, mais gratidão, mais ternura. Você passa a temer que esses encontros acabem. Você aceita e não questiona, nem julga, quem te ajuda a sobreviver. Sobreviver é o que você espera. Viver é para poucos. O instinto de sobrevivência é mesmo o mais ancestral dos sentimentos. Por vezes, amamos quem não nos mata e não, quem nos deixa viver. 

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