Camaçari segue no escuro enquanto cidades vizinhas brilham com suas programações juninas
Edilson Alves falou forte nesta terça-feira (6), durante o programa “Giro na Cidade”. E ele não estava sozinho. A inquietação que ele transmitiu ao vivo é a mesma que pulsa no coração de comerciantes, artistas locais e milhares de moradores que esperam — com esperança e frustração misturadas — uma resposta da Prefeitura de Camaçari: cadê o São João?
Enquanto o tempo passa e o silêncio da gestão municipal continua, a ansiedade só cresce. E não é para menos. Camaçari já viveu o trauma de passar por um São João apagado por falta de planejamento. Ninguém quer ver esse filme repetido.
Emergência não justifica omissão cultural
Sim, o município ainda enfrenta os efeitos das fortes chuvas. Alagamentos, ruas danificadas e famílias afetadas exigem respostas urgentes — e isso ninguém nega. Mas uma coisa não anula a outra. Pelo contrário: em momentos difíceis, a cultura é alento, é resistência. O São João pode — e deve — ser planejado com responsabilidade. Deixar tudo para última hora, de novo, seria repetir erros que a população não está mais disposta a aceitar.
“Se vai ter ou não, a gente precisa saber logo”, desabafou um comerciante da Praça Abrantes. Ele vende roupas e adereços típicos e depende do aquecimento das festas juninas para salvar o mês. Sem previsão oficial da prefeitura, fornecedores ficam sem retorno, produtos deixam de ser encomendados e empregos temporários deixam de ser criados. A ausência de transparência vira prejuízo na ponta.
Enquanto Camaçari se enrola, cidades do interior dão show de planejamento e respeito com seus moradores. Em Santo Antônio de Jesus, a programação junina foi anunciada com antecedência e traz nomes como Ana Castela, Dorgival Dantas e Simone Mendes. O município já respira São João. A decoração começou a ser instalada, a rede hoteleira registra aumento nas reservas, e o comércio colhe os frutos do bom planejamento.
Em Jequié, entre 14 e 24 de junho, artistas como Wesley Safadão, Calcinha Preta e Flávio José estão confirmados. A cidade, conhecida por sua alegria junina, mostra que é possível investir com responsabilidade mesmo em tempos difíceis.
Já Irecê se superou: anunciou duas semanas de festa com atrações como DJ Alok, João Gomes e Bell Marques. O planejamento foi divulgado com meses de antecedência. Resultado? Movimentação na economia local, engajamento social e valorização da cultura nordestina.
Em Cruz das Almas, a prefeitura confirmou shows de Wesley Safadão, Simone Mendes e Tarcísio do Acordeon. Mas além das estrelas, o município aposta forte em artistas locais e manifestações culturais tradicionais, como quadrilhas e sanfoneiros de rua. Em Amargosa, o mesmo espírito: cultura popular valorizada, economia girando e povo orgulhoso da própria cidade.
O São João não é só festa. É tradição. É identidade. É oportunidade de renda para quem vende milho na esquina, quem costura vestidos típicos, quem toca zabumba ou canta forró no palco da praça. Em Camaçari, com tantos artistas locais talentosos e um povo que valoriza as raízes, não anunciar a programação é um desperdício duplo: de talento e de oportunidade.
Edilson Alves dá voz à cobrança legítima da população
Edilson Alves, ao levantar essa discussão no seu programa, fez mais do que uma crítica. Ele verbalizou o que muitos gostariam de dizer, mas não têm o microfone. “É natural que todos queiram saber quais atrações virão. O povo quer festa, e quer respeito”, afirmou. E tem razão. A omissão não é simbólica.
Hoje é dia 6 de maio. Faltam menos de 45 dias para o São João. Em cidades como Serrinha, Senhor do Bonfim, Porto Seguro, Araci, São Felipe e até pequenas como Barrocas, o povo já sabe o que esperar. Já se programa. Já se anima. Já se sente respeitado. E em Camaçari? Ninguém sabe, ninguém viu.
Camaçari não pode viver mais um junho sem fogueira acesa, sem trio tocando, sem o CamaForró e sem orgulho no peito. A festa que movimenta o coração do Nordeste.
A pergunta está feita e ecoa por toda a cidade: Cadê a programação do São João, prefeito? O povo não quer luxo, mas quer respeito. Quer cultura. Quer alegria. E isso, sinceramente, não dá mais para adiar.
por A. Almeida