por A. Almeida*
A recente decisão do governo Lula de zerar as alíquotas de importação para alguns produtos essenciais pode parecer uma solução imediata para conter a alta nos preços dos alimentos, mas será que essa medida é suficiente? Economistas alertam que a redução de impostos, por si só, não resolve os problemas estruturais da inflação e deve ter efeitos limitados no bolso do consumidor. Para enfrentar essa crise de forma mais eficiente, o Brasil precisa de uma estratégia mais ampla e sustentável.
O corte de impostos sobre produtos como café, carne, açúcar, milho, azeite de oliva e massas alimentícias tem um objetivo claro: baratear esses itens para os consumidores. No entanto, o efeito vai ser menor do que o esperado. Isso porque os preços dos alimentos são influenciados por diversos fatores, como a variação do dólar, os custos logísticos e a demanda global.
Economistas apontam que, embora essa medida ajude a reduzir os preços de forma pontual, ela não ataca a raiz do problema: a alta dos custos de produção e a falta de incentivo para a agricultura nacional. Se o governo não der suporte direto aos produtores brasileiros, o país pode acabar cada vez mais dependente das importações, o que cria uma vulnerabilidade econômica no longo prazo.
A desvalorização do real nos últimos anos tem um efeito direto sobre o preço dos alimentos. Como muitos insumos agrícolas são cotados em dólar, qualquer flutuação cambial impacta os custos de produção. Isso significa que, mesmo que as alíquotas de importação sejam zeradas, a alta do dólar anula os efeitos da medida.
Para evitar esse problema, o Brasil precisa adotar políticas econômicas que fortaleçam a moeda nacional, reduzindo a dependência de importações. O controle da inflação e a atração de investimentos estrangeiros podem contribuir para a estabilização do real, tornando os produtos mais acessíveis para a população.
Outro fator de impacto no preço dos alimentos é a precariedade da infraestrutura logística no Brasil. Estradas mal-conservadas, falta de ferrovias e portos congestionados encarecem o transporte e aumentam o desperdício de alimentos. Atualmente, cerca de 30% da produção agrícola é perdida antes de chegar ao consumidor final.
Se o governo investisse mais em infraestrutura, reduzindo os custos logísticos, os preços dos alimentos poderiam cair de maneira mais segura e duradoura. A modernização dos transportes, o incentivo ao uso de ferrovias e o desenvolvimento de sistemas de escoamento mais eficientes ajudariam a tornar a produção agrícola mais competitiva.
Apoio aos Pequenos Produtores: A Chave para uma Produção Mais Barata
Enquanto os grandes produtores conseguem se adaptar melhor às oscilações do mercado, os pequenos e médios agricultores sofrem com a falta de crédito, tecnologia e infraestrutura. Sem políticas de incentivo, muitos acabam abandonando a produção, o que reduz a oferta de alimentos e pressiona os preços para cima.
O governo deveria criar linhas de financiamento mais acessíveis, oferecer assistência técnica e investir em tecnologias que aumentem a produtividade sem elevar os custos. Além disso, estimular a agricultura familiar e a produção local poderá reduzir a dependência de alimentos importados e garantir mais segurança alimentar para o país.
A agricultura brasileira ainda enfrenta desafios relacionados às mudanças climáticas. Períodos de seca, chuvas intensas e eventos extremos afetam diretamente a produção e encarecem os alimentos. Por isso, investir em práticas agrícolas sustentáveis e tecnologias mais eficientes deve ajudar a reduzir as perdas e estabilizar os preços.
O uso de sistemas de irrigação inteligentes, o plantio direto e a rotação de culturas são algumas estratégias que podem tornar a produção mais resistente às variações climáticas. Além disso, políticas de incentivo à agricultura sustentável deveriam atrair investidores e reduzir a dependência de insumos externos.
Zerar alíquotas de importação não resolve o problema dos preços e custos dos alimentos, para garantir preços mais acessíveis, o Brasil precisa investir em infraestrutura, apoiar seus produtores e fortalecer sua economia. Somente com uma estratégia ampla e consistente será possível garantir que a comida chegue à mesa do brasileiro a um preço justo.
A. Almeida-jornalista, Economista e Servidor Público