Camaçari está envelhecendo
A gente precisa falar sobre os nossos idosos. Sério. Em Camaçari, são mais de 46 mil pessoas com mais de 60 anos. E esse número só tende a crescer. A cidade não tem nenhuma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Nenhuma. Zero. E o que isso significa na prática? Significa que, se um idoso vulnerável, com alto grau de dependência, precisa de cuidados constantes, ele simplesmente não tem para onde ir.
A realidade é dura. Enquanto o tempo passa, muitos estão ficando invisíveis — abandonados por um sistema que ignora o envelhecimento como algo previsível e inevitável. E isso doi.
De acordo com a ONU, a população brasileira vai bater 219 milhões em 2042, mas depois disso vai começar a cair. Só que a parte de idosos vai crescer — muito. Em 1950, esse grupo representava quase nada. Hoje, somos 15,8%. Em 2100, serão mais de 40% da população. Ou seja: terceira idade será maioria.
E em Camaçari, esse impacto chegou mais cedo. Uma cidade com herança industrial, que atraiu migração, vê agora seus trabalhadores envelhecendo sem estrutura para viver essa fase com dignidade.
É revoltante, mas é a realidade: Camaçari não possui uma única ILPI pública. E mesmo as alternativas — as privadas ou conveniadas — enfrentam subfinanciamento vergonhoso. O governo federal repassa apenas R$ 72 mensais por idoso. Isso não paga nem os medicamentos de uma semana. Resultado? Falta de vagas, espera interminável, famílias desesperadas.
Pior: o processo para conseguir uma vaga é burocrático, demorado e muitas vezes desumano. A decisão depende do SUAS, que por sua vez está com a estrutura capenga e profissionais sobrecarregados.
Professor Narciso propõe a “Cidade do Idoso” — um respiro de esperança
Em meio a tanto abandono, só um candidato ousou apresentar uma proposta concreta e humana: o candidato a vereador Professor Narciso. Ele defendeu a criação da Cidade do Idoso, uma estrutura pública com moradias, atendimento médico, lazer, alimentação e tudo que um idoso vulnerável precisa.
Mas ele foi além. Narciso defendia subsídios diretos às famílias que cuidam dos seus idosos em casa. Porque é aí que começa o cuidado de verdade — na presença, no afeto, no cotidiano. Ele também propôs centros-dia, que funcionariam como creches para idosos, como no Japão. Assim, filhos e filhas poderiam trabalhar tranquilos, sabendo que seus pais estão sendo cuidados com carinho.
Não dá mais para fingir que o sistema de saúde de Camaçari atende os idosos. Nos últimos 8 anos, a gente viu uma redução brutal de serviços e de atendimento. Faltam médicos, exames, remédios. E, principalmente, falta uma política voltada para a longevidade, com foco na prevenção, na reabilitação e nos cuidados continuados.
Idosos com doenças crônicas estão sendo empurrados para emergências, quando poderiam ser acompanhados em casa, com equipes de saúde da família, com visitas regulares, com telemedicina, com humanidade.
A economia prateada é um oceano de oportunidades
Sabe aquele papo de que envelhecimento só traz despesas? Pura mentira. O mundo inteiro já entendeu o potencial da economia prateada — um mercado movimentado por idosos ativos, com poder de consumo, disposição para viver e até vontade de trabalhar.
Mas para isso, a cidade precisa investir em requalificação profissional, em combate ao etarismo e em ambientes acessíveis. Camaçari poderia ser referência nisso. Com universidades, centros técnicos, empresas de tecnologia e um polo industrial, daria para criar programas específicos para idosos, garantindo ocupação produtiva e autonomia.
A pergunta é simples: você quer envelhecer como? Num canto esquecido, sem apoio, sem saúde, sem dignidade? Porque é isso que está sendo construído hoje, se nada mudar. E a mudança precisa começar com planejamento de verdade.
Camaçari precisa fazer um diagnóstico sério da realidade dos seus idosos. Mapear onde estão, quais são os riscos, quais as necessidades e onde estão as oportunidades. Só assim será possível criar zonas de cuidado ampliado, áreas com infraestrutura adequada, transporte acessível, serviços sociais e rede de proteção.
Cidades que se preparam para longevidade são mais seguras, mais humanas, mais saudáveis para todos. Rampas, calçadas largas, transporte adaptado, praças com bancos confortáveis, espaços de convivência — tudo isso ajuda os idosos, crianças, gestantes, pessoas com deficiência. É um investimento em qualidade de vida para todos.
Camaçari tem potencial. Tem gente boa. Tem vontade. Falta coragem política. Falta parar de tratar envelhecimento como um problema e passar a encarar como uma oportunidade de transformação social e econômica.
A geração que construiu essa cidade merece mais. Eles ergueram fábricas, ensinaram filhos, cuidaram de netos. Agora, precisam de amparo, não de abandono. Precisam de políticas públicas, não de promessas vazias. Precisam de respeito, não de esquecimento.
Camaçari não pode continuar virando o rosto. Porque, no fim das contas, todos nós estamos envelhecendo, inclusive, o Prefeito, o Presidente, os nossos Senadores. E o que a gente constrói hoje vai ser o que a gente encontrará lá na frente.
por A. Almeida-jornalista, Economista e Servidor Público