Ninguém sobreviveu no voo da Voepass que ia de Cascavel para Cumbica
“O avião embicou para o meu lado. Pensei: ‘Agora vai me matar’. Ele girou e, quando eu vi, foi o baque. Eu tenho pressão alta, mas, na hora, ela baixou demais”
Delmiro Menezes de Souza, vizinho do local da queda
No acidente aéreo com maior número de vítimas em 17 anos no Brasil, um avião com 57 passageiros e 4 tripulantes da Voepass (antiga Passaredo), que ia de Cascavel (PR) para Guarulhos (SP), caiu no início da tarde de ontem em Vinhedo (SP). Não houve sobreviventes.
A aeronave se incendiou no quintal de uma casa no Condomínio Recanto Florido. O avião – modelo ART 72-500, com capacidade para 68 passageiros – levantou voo às 11h58 e tinha pouso previsto para as 13h50. Segundo dados do transponder do voo, às 12h23 atingiu 5 mil metros de altitude e permaneceu nesse nível até 13h21. A queda durou cerca de um minuto e ocorreu a cerca de 4 mil metros de altura. O site Flightradar24 havia publicado um alerta de formação de gelo severo entre 3,6 mil e 6,4 mil metros de altura. A caixa-preta do avião, que pode fornecer informações sobre o acidente, foi localizada e estaria em boas condições.
O ATR 72-500, da Voepass Linhas Aéreas, levantou voo ontem às 11h58 em Cascavel (PR) e tinha pouso previsto para as 13h50, em Guarulhos (SP). Às 12h23, o avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude, permanecendo nesta altura até 13h21. A partir desse horário, registrou-se uma perda de altitude da aeronave. A queda durou cerca de um minuto e começou a cerca de 4 mil metros de altura. Terminou com 61 mortos, no quintal de um condomínio em Vinhedo, no maior acidente em solo brasileiro em 17 anos.
No avião da antiga Passaredo estavam 57 passageiros e 4 tripulantes. Lembrou a muitos a última grande tragédia da aviação em São Paulo em 17 de julho de 2007, quando a queda da aeronave da TAM em Congonhas deixou 199 mortos. Ou mesmo o acidente anterior, de 1996, em que um Fokker caiu em uma área residencial do Jabaquara, na zona sul paulistana.
O acidente com o voo de matrícula PTB 2283 ocorreu próximo da Rodovia Miguel Melhado de Campos (SP324), no Condomínio Recanto Florido. A proprietária do quintal em que a aeronave pegou fogo, Aline Lima, ainda se recupera do trauma que viveu após escapar ilesa. “Estou em estado de choque”, disse ao Estadão (mais informações nas páginas A18 e A19).
Até o prefeito de Vinhedo, Dario Pacheco, foi ao condomínio para tentar ajudar e socorrer as vítimas como médico, mas havia risco de explosão. “Não teve como chegar ao local, chegamos a 20 metros do acidente só.”
CAUSAS. Havia ontem um alerta de formação de gelo severo entre 3,6 mil e 6,4 mil metros de altura. Imagens da queda do avião, que mostram a aeronave caindo em um giro vertical, posição chamada de “parafuso chato” na aviação, são o principal indicativo de que o acidente ocorreu por perda de sustentação, o “estol”. Segundo
especialistas, isso pode estar associado à formação de gelo nas asas do avião, mas só a investigação será capaz de dar a resposta.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou ontem que a caixa-preta do avião, onde ficam armazenadas informações sobre o voo, já foi localizada e parece estar bem preservada. Foi instaurado um inquérito e, além de integrantes do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), a Polícia Federal também trabalha na investigação.
Segundo as informações iniciais, não houve nenhum alerta por parte da tripulação de que algo estava errado na viagem. “É tudo prematuro, mas o que temos até agora é que não houve, por aparte da aeronave, comunicação com órgãos de controle de que haveria alguma emergência”, disse o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro do ar Marcelo Moreno (mais informações nas páginas A16 e A17).
A empresa
Executivos da Voepass dizem que o modelo havia passado por manutenção na noite anterior
EMPRESA E COMANDO. O CEO da Voepass, Eduardo Busch, e o diretor de Operações, Marcel Moura, falaram sobre a tragédia em Ribeirão Preto, onde fica a sede da empresa. “Não temos informação sobre as causas do acidente. Qualquer informação transmitida não passa de mera especulação e hipótese, o que, diante de tragédia dessa pro
porção, só gera ainda mais ruído e dor em todos que já estão absolutamente abalados”, afirmou Busch. Ele ainda elogiou a tripulação, que era “experiente, competente e totalmente apta” para conduzir o voo.
O comandante do ART era Danilo Santos Romano, de 35 anos, com dez anos de experiência. Ele estava na Voepass desde novembro de 2022, onde começou como copiloto nesse modelo, passando a comandante
Tripulação Segundo informações iniciais, não houve nenhum alerta de que algo estava errado
em julho de 2023.
Ele já havia atuado em outras companhias, entre elas a colombiana Avianca e a Air Astana, do Casaquistão, e pilotado aeronaves maiores, como Airbus A320/A330, em rotas nacionais e internacionais. Colegas no piloto nessas empresas o descreveram como um profissional “dedicado”. Já o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, de 61 anos, estava na empresa havia quase cinco anos e tinha mais de 5 mil horas de voo.
Ontem, o avião começou a operar às 5h30, quando partiu de Ribeirão Preto para São Paulo, e depois foi de São Paulo para Cascavel. O voo para Guarulhos seria o terceiro do dia. “Essa aeronave saiu de Ribeirão Preto, nossa base principal de manutenção. Fez a manutenção de rotina na noite anterior e saiu daqui sem nenhum tipo de problema técnico”, garantiu Moura.
VÍTIMAS. Em paralelo, equipes vão trabalhar na coleta de sangue de familiares e na identificação das vítimas – ontem, já foi publicada uma lista oficial, incluindo pessoas de diversas profissões, como professores, farmacêuticos e fisiculturistas (mais informações na página A20). “De posse da lista e do banco de informações dessas pessoas, seja do IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt) daqui de São Paulo ou do próprio Paraná, a gente pode fazer uma perícia, um exame de comparação aqui no local, com os nossos peritos, para saber se aquela pessoa é realmente quem constava na lista de passageiros”, disse Derrite.
Os casos que demandarem mais exames deverão ser encaminhados para a capital paulista. O secretário Derrite informou que está conversando com autoridades para bloquear o espaço aéreo na região do acidente e assim evitar a exposição das vítimas.
Os três primeiros corpos já foram encaminhados ontem para o Instituto Médico-Legal (IML) Central de São Paulo, mas funcionários do órgão não detalharam como será o processo agora. O órgão será fechado para trabalhar somente no caso de avião – outros IMLs atenderão casos da capital paulista.
LUTO. Logo após a confirmação das mortes, uma série de políticos e personalidades se manifestou, sobretudo pelas redes sociais. Em um evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu um minuto de silêncio. Os governadores de São Paulo e do Paraná, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ratinho Júnior (PSD), deixaram um encontro com colegas de outros Estados do Sul e Sudeste e viajaram para Vinhedo para acompanhar o trabalhos no local do acidente. O caso ainda chamou a atenção de artistas e da imprensa internacional •
fonte-O Estado de S. Paulo