A confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja comercial localizada em Montenegro, no Rio Grande do Sul, acendeu um alerta vermelho no agronegócio brasileiro e no cenário global das exportações de proteína animal. A repercussão foi imediata: dez países anunciaram suspensões, parciais ou totais, nas importações de carne de frango do Brasil, entre eles China, União Europeia, Canadá, África do Sul, Chile, Argentina, Uruguai, México, Coreia do Sul, Japão e Emirados Árabes Unidos.
O impacto dessas decisões comerciais é grave. O Ministério da Agricultura e Pecuária estima que o Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, pode deixar de embarcar entre 50 mil e 100 mil toneladas da proteína por mês, o que representa perdas financeiras na ordem de até US$ 200 milhões mensais. Os números consideram o preço médio de exportação de US$ 2 mil por tonelada.
Governo Reage com Emergência Zoossanitária e Negociações Diplomáticas
Diante da crise, o governo federal adotou medidas emergenciais. O Ministério da Agricultura declarou estado de emergência zoossanitária na região atingida e intensificou a vigilância em um raio de 10 quilômetros ao redor da granja afetada, buscando impedir a disseminação do vírus H5N1 para outras áreas produtivas.
Além das ações sanitárias, autoridades brasileiras estão em tratativas com os governos dos países que impuseram embargos, tentando limitar as restrições a áreas regionais e evitar bloqueios em todo o território nacional. A estratégia é mostrar que o caso está controlado e isolado, o que tecnicamente poderia justificar suspensões pontuais, sem afetar a imagem sanitária global do Brasil como fornecedor confiável de proteína animal.
O episódio evidencia a vulnerabilidade das cadeias de exportação agropecuária frente a surtos sanitários, mesmo quando eles são pontuais e isolados. Especialistas reforçam que o setor avícola deve redobrar esforços em biossegurança, rastreabilidade e comunicação com os parceiros internacionais, evitando que casos esporádicos escalem para crises prolongadas. Para o Brasil, manter-se como um player competitivo e confiável no comércio internacional passa diretamente pela capacidade de resposta rápida, coordenação institucional e transparência nas ações sanitárias.
A avicultura brasileira tem histórico de superação e já enfrentou outros desafios sanitários e comerciais no passado. No entanto, a escala atual da gripe aviária e a reação dos mercados internacionais mostram que o risco é real e os prejuízos podem ser duradouros, se não houver contenção efetiva e estratégias diplomáticas bem-sucedidas.