Rute Carvalhal Alerta: Motociclistas Representam Mais de 60% dos Casos de Emergência no Trânsito em 2024
Só em 2024, mais de 227 mil ocorrências de trânsito foram registradas no Brasil, com 150 mil envolvendo motociclistas. Isso significa, na prática, que a cada dois minutos uma nova vítima é atendida em emergência, segundo dados de associações especializadas. Esses acidentes já representam mais de 60% dos atendimentos de urgência no trânsito e a maior parte deles envolve trabalhadores em situação de extrema vulnerabilidade: os motofretistas e entregadores de aplicativos.
A engenheira de segurança do trabalho Rute Carvalhal, que desenvolve pesquisa sobre o tema no mestrado da Faculdade de Medicina da UFBA, alerta: as emergências hospitalares não estão mais dando conta. Somente em 2024, foram mais de 227 mil de internações causadas por sinistros de trânsito, com um custo direto que ultrapassa os bilhões de reais. Esse dinheiro poderia estar sendo usado para prevenir, educar ou tratar outras doenças graves. Em vez disso, estamos pagando por algo que é evitável.
Trabalhadores de aplicativo: o elo mais frágil da cadeia urbana
Boa parte das vítimas são jovens de 20 a 29 anos, com 28% das internações. Somando as faixas de 30 a 39 anos e 40 a 49 anos, mais de 65% de todas as hospitalizações recaem sobre essa população ativa, produtiva, mas sem proteção trabalhista formal. “Esses jovens não têm carteira assinada, não têm apoio jurídico e ainda enfrentam as ruas sem estrutura. Quando caem, caem sozinhos, e o SUS, que é para todos, acaba sobrecarregado com essa conta”, desabafa Rute.
Em sua pesquisa, desenvolvida na cidade de Camaçari, Rute identificou que as condições climáticas agravam ainda mais os riscos para quem trabalha nas ruas. Chuvas fortes, má sinalização, ausência de áreas de descanso e iluminação precária formam um cenário desumano. E isso tudo se soma ao trânsito caótico da Região Metropolitana de Salvador, onde a pressa, o improviso e o estresse colocam vidas em constante perigo.
A campanha Maio Amarelo de 2025 não poderia ser mais simbólica neste momento. Enquanto instituições discutem segurança no trânsito, as motos continuam colidindo, derrapando, explodindo em estatísticas. “Não adianta a gente colocar faixa refletiva no capacete se a cidade não protege quem nela circula. Precisamos de ações estruturais, e não só campanhas educativas”, enfatiza Rute, visivelmente angustiada com a realidade que acompanha nos corredores hospitalares e nos dados da pesquisa.
A proposta concreta: faixas exclusivas para motos como solução urgente
“É hora de o poder público sair da inércia”, afirma a engenheira. Rute defende a criação de faixas exclusivas para motocicletas, principalmente nas vias expressas e de maior fluxo. A ideia, segundo ela, não é privilégio, é proteção. Separar motos de veículos maiores pode reduzir drasticamente o número de colisões e dar mais segurança a quem trabalha e se arrisca nas ruas. “É uma resposta concreta de engenharia para uma tragédia que já está instaurada.”
Por trás de cada número, há uma história interrompida. Uma mãe que espera o filho voltar do trabalho, um jovem que não conseguirá mais andar, um pai que não poderá mais sustentar a família. “Esses acidentes não ferem só o corpo. Eles destroem famílias, sonhos, futuros”, diz Rute, humanizar essa dor é o primeiro passo para exigir mudanças reais.