por A. Almeida
Uma despedida comovente para um líder que rompeu tradições
O mundo acordou em silêncio nesta segunda-feira (21). Morreu o Papa Francisco, aos 88 anos, em Roma. Líder máximo da Igreja Católica desde 2013, Francisco — nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires — foi um símbolo de empatia, simplicidade e coragem em tempos conturbados para o catolicismo. Sua morte foi confirmada oficialmente pelo Vaticano, dando início a uma cerimônia que mistura luto, tradição e uma transição delicada dentro da Santa Sé.
De acordo com o protocolo do Vaticano, os próximos nove dias serão marcados por rituais fúnebres, orações e homenagens que culminarão com o funeral. Depois disso, inicia-se o processo de sucessão, que pode durar até 20 dias. Nesse período, os cardeais eleitores — quase 80% deles nomeados pelo próprio Francisco — se reúnem em conclave para escolher o novo papa. Enquanto isso, a Igreja é comandada interinamente pelo camerlengo, o cardeal irlandês Kevin Farrell.
Em vida, Francisco pediu para ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, no coração de Roma, e não na cripta de São Pedro, onde repousam a maioria dos papas. É um gesto forte, carregado de simbolismo. Ele queria descansar entre o povo, em um lugar acessível, visitado por romanos e peregrinos comuns. Um papa que rompeu com a pompa até na hora da morte.
Um papa que mexeu com estruturas conservadoras
Francisco dividiu opiniões. Para muitos, foi revolucionário e necessário. Para outros, um rompedor de tradições. Ele enfrentou a ala conservadora ao abrir espaço para bênçãos a casais homoafetivos e ao restringir o uso da missa em latim, símbolo do catolicismo tradicional. Suas decisões foram alvo de duras críticas e de admiração por quem via na Igreja uma instituição que precisava acompanhar os tempos.
Em 2015, Francisco escreveu “Laudato si”, um grito pela defesa do planeta e pela justiça social. Foi o primeiro papa a colocar a crise climática no centro da doutrina católica. Denunciou o consumismo, a destruição ambiental e o sistema financeiro global que, segundo ele, “mata”. O documento virou referência mundial e influenciou debates políticos, ecológicos e religiosos ao redor do globo.
Francisco foi o primeiro papa vindo da América Latina e o primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro. Ele trouxe consigo a teologia da libertação, a consciência das desigualdades sociais e a vivência de um continente onde fé e resistência caminham juntas. Sua origem moldou seu olhar para o mundo.
Agora, com a morte de Francisco, a Igreja entra em um momento de encruzilhada. Quem será o próximo papa? A escolha será feita por um colégio de cardeais formado, majoritariamente, por nomes que compartilham da visão de Francisco. Mas isso não garante continuidade. A tensão entre progressistas e conservadores está mais viva do que nunca. O futuro da Igreja está nas mãos de homens que foram moldados por Francisco, mas que nem sempre concordaram com ele.