Camaçari está pronta para o futuro
Quem diz isso com convicção é a engenheira Rute Carvalhal, para ela, Camaçari — cidade conhecida por seu polo industrial — não só tem infraestrutura como tem vocação para dar um salto gigantesco rumo à tecnologia de ponta. E esse salto tem nome: Indústria 6.0. Mas, calma. Disse Rute “Antes de achar que isso é só mais um termo bonito da moda, é preciso entender o que está em jogo. E o que está, é o futuro do trabalho, da produção, da economia… e da nossa capacidade de acompanhar um mundo que já está mudando.”
Há pouco mais de uma década, a chamada Indústria 4.0 nos apresentou à automação avançada, à internet das coisas, aos dados em nuvem. E foi transformador. Mas ainda muito centrado em máquinas. A Indústria 5.0, surgida logo depois, resgatou o fator humano, colocando as pessoas novamente no centro da produção. E agora, estamos diante de algo ainda maior: a Indústria 6.0 — um modelo que une autonomia, inteligência artificial e colaboração real entre humanos e máquinas.
Essa nova revolução já não é mais sobre substituir pessoas. É sobre valorizar o que só elas têm: sensibilidade, julgamento, criatividade. Ao mesmo tempo, espera-se que as máquinas façam cada vez mais o trabalho pesado, repetitivo, com precisão milimétrica. O futuro é híbrido.
“A gente não está mais falando só de robôs na linha de montagem. Estamos falando de sistemas inteiros que aprendem com os erros, que analisam padrões em tempo real, que tomam decisões de forma autônoma. E tudo isso não é ficção científica. Já está sendo implementado em países que não esperam o futuro acontecer — eles o constroem.” Afirma Carvalhal.
Rute Carvalhal define que o papel do Estado e da Prefeitura será investir em educação, fortalecer o SENAI/CIMATEC Park , além das faculdades públicas e Privadas. Camaçari tem tudo para ser referência nesse cenário. O que falta? Visão, coragem política e investimento em gente. Não basta ter infraestrutura — e ela existe, graças ao legado do polo petroquímico. É preciso formar técnicos, engenheiros, gestores com mentalidade digital. É preciso investir em pesquisa e conexão com universidades e startups. E, acima de tudo, criar políticas públicas que entendam que tecnologia não é custo. É sobrevivência.
Rute que é especialista em engenharia e segurança do trabalho acredita que a grande sacada da Indústria 6.0 é devolver ao trabalhador um papel protagonista. Mas não qualquer trabalhador. Aquele que sabe interpretar dados, que sabe conversar com as máquinas, que entende os processos e sabe ajustá-los de forma criativa. Ou seja: nós precisamos preparar pessoas, não máquinas.
E essa preparação não se faz em cursos genéricos ou em treinamentos rápidos. Ela se faz com uma revolução na forma de educar — desde o ensino técnico até a pós-graduação. Camaçari, com sua vocação industrial, deveria ser pioneira em criar centros de formação avançada, incubadoras de tecnologia, programas de apoio a jovens inovadores.
Com tanta interconectividade, cresce também o risco. A Indústria 6.0 lida com volumes gigantes de dados sensíveis. Uma falha de segurança pode paralisar fábricas inteiras ou expor informações críticas. Por isso, segurança cibernética e a Inteligência Artificial deixou de ser uma área de apoio. Agora, é questão central. E mais: é preciso discutir ética. Quem decide? A máquina? O humano? Os dois juntos?
Essas são discussões urgentes e que precisam ser feitas agora. Precisamos formar especialistas em tecnologia, em governança, em direito digital, em comportamento humano diante de máquinas inteligentes.
De acordo com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, menos de 2% das empresas brasileiras estão realmente preparadas para a Indústria 4.0. Isso mesmo: ainda estamos engatinhando na fase anterior. Mas isso não significa que estamos condenados ao fracasso. Significa que precisamos correr.
E correr com foco. Correr com política pública séria. Com investimentos estruturados. Com parcerias entre o setor público, privado e acadêmico. E, principalmente, com coragem de admitir que estamos atrasados, sim, mas que não é tarde demais para virar a chave.
A Indústria 6.0 também tem um compromisso ambiental e com a economia circular. Ao usar dados e inteligência artificial para otimizar processos, há uma redução significativa no uso de energia, matéria-prima e no desperdício. É possível produzir mais, melhor e com menos impacto. A indústria do futuro será verde.
Isso é uma oportunidade para o Camaçari, que tem matriz energética limpa, tem biodiversidade, tem recursos naturais que o mundo todo valoriza. Unir tecnologia e sustentabilidade é uma chance única de colocar o município como referência global em desenvolvimento consciente.