por A.Almeida- jornalista, Economista e autor de três livros
No primeiro mês completo do novo crédito consignado para trabalhadores do setor privado, os juros deram um salto. A taxa média chegou a 59,1% ao ano, o maior índice registrado desde o início da série histórica do Banco Central, em 2011. Em março, esse número era de 44%, ou seja, um aumento de 15,1 pontos percentuais em apenas um mês. Para quem esperava uma alternativa mais leve no bolso, o susto veio na forma de parcelas mais salgadas e risco de superendividamento.
O volume de empréstimos disparou para R$ 5,6 bilhões, quase 150% a mais do que em março, quando o número ficou em R$ 2,25 bilhões. Esse salto reflete uma demanda enorme reprimida entre os trabalhadores de carteira assinada, que agora têm acesso direto ao crédito sem depender de convênio entre empresa e banco. Mas essa facilidade tem um preço, e ele deve estar mais alto do que muita gente consegue pagar.
O programa “Crédito do Trabalhador”, criado pelo governo federal no fim de março, trouxe uma mudança relevante: o trabalhador agora pode contratar o empréstimo diretamente com o banco, sem precisar da autorização da empresa. O valor pode ser garantido com até 10% do saldo do FGTS e 100% da multa rescisória em caso de demissão sem justa causa. É uma inovação que dá mais autonomia ao trabalhador, mas acende o sinal vermelho se não for acompanhada de responsabilidade dos bancos.
Por que os bancos elevaram tanto os juros? Risco de calote pesa na balança
Apesar do governo ter projetado essa linha como uma forma de baratear o crédito, os bancos não embarcaram com a mesma visão. Para eles, o risco de inadimplência com trabalhadores do setor privado, que têm empregos menos estáveis que servidores e aposentados, justifica cobrar mais caro. Segundo o Banco Central, esse aumento dos juros deve estar relacionado diretamente a essa percepção de risco. O problema é que quem mais precisa do crédito acaba pagando o preço mais alto.