Vida em alojamentos indignos: uma rotina degradante
Imagine acordar às 4h da manhã, enfrentar filas para usar um banheiro compartilhado por 31 pessoas e, em seguida, encarar uma jornada exaustiva de trabalho. Foi essa a realidade de 163 trabalhadores chineses resgatados em condições análogas à escravidão nas obras da BYD em Camaçari, na Bahia. Sem colchões adequados, sem privacidade e com alimentos misturados a itens pessoais, os alojamentos mais pareciam um cenário de abandono.
Com higiene precária e ausência de separação por sexo, os banheiros expunham a dignidade dos trabalhadores. A rotina era cruel: acordar cedo para formar fila e evitar o caos. E não para por aí — muitos viviam sem armários ou qualquer espaço pessoal para guardar suas coisas, o que transformava o alojamento em um caos completo.
As áreas de refeição improvisadas eram outro reflexo do desrespeito. Trabalhadores precisavam comer em camas ou perto de entulhos, já que o refeitório não comportava todos. A negligência atingiu níveis alarmantes, com materiais de construção armazenados ao lado de alimentos.
Trabalho forçado e salários confiscados
Além das condições insalubres, a força-tarefa do ministério público e auditores fiscais do trabalho constatou práticas que configuravam trabalho forçado. Com passaportes retidos e salários parcialmente pagos em moeda chinesa, os trabalhadores ficavam presos a um ciclo de exploração sem saída. A caução exigida para contratação e os contratos confusos agravavam ainda mais a vulnerabilidade dessas pessoas.
Longas jornadas e condições degradantes afetam a saúde física colocando vidas em risco. Entre os relatos, há o de um trabalhador que sofreu um acidente ocular sem tratamento adequado e outro que, exausto pela privação de sono, se acidentou.
A obra da BYD deve ser fiscalizada até que as irregularidades sejam resolvidas. Uma audiência entre o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego e a BYD discutirá as ações necessárias para garantir condições dignas.