A aposentadoria ativa não é utopia. É realidade possível, concreta e transformadora. Com planejamento, afeto, propósito e curiosidade, esse novo tempo deve ser o mais potente da sua vida.
por A. Almeida
Por muito tempo, aposentadoria significava desligar-se do mundo, da rotina e da produtividade. Era como se, ao se aposentar, a pessoa deixasse de ser útil. Eu vivi isso de perto. Quando era jovem, vi pessoas se aposentando aos 48 anos — e com salários altos. Muitos recebiam até 20 salários-mínimos, o que hoje parece um sonho distante. Mas, em vez de celebrarem a liberdade, essas pessoas se recolhiam, se calavam, e, muitas vezes, murchavam.
Com 73 anos, estou na fase mais produtiva da minha vida. Trabalho com gestão fiscal, enfrento planilhas e legislações complexas, participo de reuniões intermináveis, escrevo diariamente para jornais e ainda arrumo tempo para me envolver com atividades de políticas públicas. Sabe o que isso me mostra? Que o desejo de contribuir, criar e fazer parte do mundo não tem prazo de validade.
Hoje é diferente. Pessoas com até os 80 anos estão cheios de energia. A medicina avançou, a alimentação mudou, e a gente aprendeu a cuidar mais do coração. Velhice não é mais sinônimo de fim. Pelo contrário: é uma oportunidade real de recomeçar.
Quantos profissionais você conhece que ainda se sentem cheios de ideias aos 75? Muitos. E, mesmo assim, são empurrados para fora do mercado. Seja por causa da aposentadoria compulsória, da falta de oportunidades ou do preconceito, essa saída forçada pode machucar muito mais do que a gente imagina.
Quando a carreira termina, mesmo que planejada, o baque emocional pode ser devastador. De repente, aquele ritmo que organizava os dias some. E o silêncio pode ser ensurdecedor. O que sobra? Um monte de horas vagas e, muitas vezes, uma sensação de vazio difícil de explicar.
Ter tempo livre é um sonho… até que ele vira um problema. A liberdade plena, sem propósito, pode sufocar. Muita opção sem direção embaralha. E aí, ao invés de curtir a vida, a gente se perde nela.
Por isso, fazer planos é essencial. Ter metas, mesmo pequenas, ajuda a dar ritmo aos dias. Pode ser aprender uma nova língua, pintar, fazer um curso, escrever, dançar, cuidar de plantas ou ajudar em um projeto voluntário. A ideia é simples: ocupar o tempo com aquilo que te faz sentir vivo.
O mundo mudou. Aprender é para todos. Hoje temos cursos online de todos os tipos e preços, desde minicursos gratuitos até MBAs internacionais. Tem aula de filosofia, de jardinagem, de tecnologia, de marketing digital, de música, é muito bacana a gente se meter na área dos outros, sempre haverá uma novidade… É só escolher.
Talvez você não queira mais aquele emprego em que vai vender o seu dia e seu tempo. Tudo bem. Mas que tal participar de projetos temporários? Ou criar algo com amigos, ex-colegas ou até desconhecidos? Aposentadoria ativa não significa voltar ao mercado formal, e sim fazer o que gosta, do seu jeito, vendendo serviços e produtos.
Já pensou em abrir uma pequena consultoria, dar palestras, produzir conteúdo ou ensinar o que você sabe? por exemplo: falar sobre vinhos, bebidas e comidas. Compartilhar conhecimento é uma das formas mais nobres de continuar contribuindo com o mundo.
Uma das maiores riquezas de envelhecer é poder conviver com as pessoas — e aprender com elas também. Essa troca é transformadora. Você compartilha histórias, elas trazem novidades. É uma via de mão dupla cheia de afeto e aprendizado.
Participe de rodas de conversa, projetos intergeracionais, grupos de leitura, mentorias ou redes de apoio. Nunca foi tão fácil encontrar gente com sede de conhecimento e vontade de ouvir.
Durante anos, seu nome veio acompanhado de um cargo: engenheiro, professora, auditor, procurador, juiz, coronel Mas… e agora? Quem é você, sem crachá?
A aposentadoria vai ser uma chance única de reencontrar sua essência. Relembrar o que te fazia vibrar na juventude, o que você deixou de lado para dar conta da rotina, o que você sempre quis fazer, mas nunca teve tempo. Essa nova etapa é sobre isso: viver com mais verdade.